sexta-feira, 27 de março de 2015

PORTA Nº 17 - PORTIMÃO


Se  o turismo é a principal actividade de desenvolvimento económico de Portimão, esta cidade algarvia  com intensa presença romana e árabe,  destacou-se nos Descobrimentos. Assim, a partir do século XV, conhecida como Vila Nova de Portimão, com a expansão comercial portuguesa, desenvolve-se como núcleo urbano.  
 
A localização geográfica promoveu um aliciante intercâmbio comercial e cultural entre o Mediterrâneo, o Atlântico e o Norte de África.

No entanto, com o terramoto de 1755, sofreu graves estragos e esta cidade viveu um período de retrocesso, que seria completamente ultrapassada no século XIX, com o florescimento das indústrias ligadas à exportação de frutos secos, pesca e, em especial, com a indústria conserveira.

Em 1924, Portimão é elevada a cidade. 
 
Sabia que o Presidente da República Manuel Teixeira-Gomes, escritor, diplomata em Londres, era natural de Portimão?
 
O Museu de Portimão, antiga fábrica conserveira, é um dos polos de visita  da cidade, para além da Casa Manuel Teixeira-Gomes, das praias e das ruas típicas. A cidade conta ainda com um agradável e simpático Teatro - Teatro Municipal de Portimão.


 
De Manuel Teixeira-Gomes ficam duas citações:
 
"A política longe de me oferecer encantos ou compensações converteu-se para mim, talvez por exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório. Dia a dia, vejo desfolhar, de uma imaginária jarra de cristal, as minhas ilusões políticas. Sinto uma necessidade, porventura fisiológica, de voltar às minhas preferências, às minhas cadeiras e aos meus livros."
 
"A acção educadora de uma obra de arte verdadeira é sempre efectiva , e exigir do artista obra de utilidade imediata equivale, muitas vezes, a cortar-lhe as asas." Carta a Manuel Mendes, Bône, 03-12-1930
 
 


segunda-feira, 23 de março de 2015

PRIMAVERA E POESIA




No dia 21 de março, sábado, um dia a seguir ao início da Primavera, comemorou-se o Dia Mundial da Poesia e da Árvore.
 
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De uma ampla e diversificada escolha, não faltam excelentes e reconhecidos poetas portugueses, deixo dois poemas: o primeiro do Joaquim Pessoa,  como um elogio a saber ser pessoa, o outro, de António Gedeão, pela força da Natureza!
  

SÃO AS PESSOAS COMO TU

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São as pessoas como tu que fazem com que o nada queira dizer-nos algo, as coisas vulgares se tornem coisas importantes e as preocupações maiores sejam de facto mais pequenas.
São as pessoas como tu que dão outra dimensão aos dias, transformando a chuva em delirante orvalho e fazendo do inverno uma estação de rosas rubras.
As pessoas como tu possuem não uma, mas todas as vidas. Pessoas que amam e se entregam porque amar é também partilhar as mãos e o corpo. Pessoas que nos escutam e nos beijam e sabem transformar o cansaço numa esperança aliciante, tocando-nos o rosto com dedos de água pura, soltando-nos os cabelos com a leveza do pássaro ou a firmeza da flecha.
São as pessoas como tu que nos respiram e nos fazem inspirar com elas o azul que há no dorso das manhãs, e nos estendem os braços e nos apertam até sentirmos o coração transformar o peito numa música infinita.
São as pessoas como tu que não nos pedem nada mas têm sempre tudo para dar, e que fazem de nós nem ícaros nem prisioneiros, mas homens e mulheres com a estatura da vida, capazes da beleza e da justiça, do sofrimento e do amor.
São as pessoas como tu que, interrogando-nos, se interrogam, e encontram a resposta para todas as perguntas nos nossos olhos e no nosso coração. As pessoas que por toda a parte deixam uma flor para que ela possa levar beleza e ternura a outras mãos.
Essas pessoas que estão sempre ao nosso lado para nos ensinar em todos os momentos, ou em qualquer momento, a não sentir o medo, a reparar num gesto, a escutar um violino.
São as pessoas como tu que ajudam a transformar o mundo.
 
Joaquim Pessoa in "Ano comum"
           
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Fala do Homem Nascido


(Chega à boca da cena, e diz:)

Venho da terra assombrada,
do ventre de minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

António Gedeão em 'Teatro do Mundo'