sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

PORTA Nº 15 - GRÂNDOLA


De um passado distante em que Grândola se destacou pelas actividades tradicionais, nomeadamente a cerealicultura, a vitivinicultura (na várzea de Grândola), a pecuária e a caça, diversas transformações conduziram às indústrias, entre as quais, a moagem, a tecelagem, a produção de vestuário, calçado e a construção civil
 
A acrescentar a esta lista, destacam-se na 2.ª metade do século XIX duas atividades que transformam o panorama económico-social: a indústria mineira, inicialmente no Canal Caveira e mais tarde no Lousal, e a indústria corticeira.
 
A localização geográfica, a diversidade e preservação da paisagem, e qualidade das vias de comunicação, têm em Grândola um polo com crescente oferta cultural.
 

 
 
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Zeca Afonso) é associado a Grândola, cuja ligação começou quando foi convidado, em 1964,  para atuar  na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense. Influenciado pelo ambiente que vivenciou, criou a primeira versão da letra  "Grândola Vila Morena" que viria a ser editada em 1971. 


Foi ao som desta canção que foi utilizada como senha pelo Movimento das Forças Armadas que fez cair o regime repressivo em 25 de Abril de 1974, ano que foi considerado Cidadão Honorário de Grândola.


Nascido em Grândola, a 6 de janeiro de 1939, destaca-se Hélder Mateus Pereira da Costa que estudou Direito mas, acabou por seguir um percurso profissional dedicado ao Teatro.

Dramaturgo, escritor, ator e encenador, Hélder Costa,  aquando do seu exílio em França por questões políticas, criou em 1970, o Teatro Operário de Paris.  Regressou a Portugal depois do  25 de abril de 1974, tendo sido um dos fundadores da companhia de Teatro "A Barraca" (Prémio UNESCO,1992), em Santos, Lisboa, palco de representação de textos da sua autoria e, entre outros, Moliére, Gil Vicente, Dário Fo, Woddy Allen, Ionesco, Brecht.
  
 

 
Encenou diversos espectáculos em Espanha, Brasil, Dinamarca e Moçambique. Uma das suas peças, "O Príncipe de Spandau", foi estreada em Viena de Áustria, e representada na Dinamarca, na Bolívia e mereceu leituras-espectáculo em Madrid, Paris, Bruxelas, Roménia e Lisboa.

Foi amplamente galardoado com prémios nacionais e internacionais em que se destacam: o Grande Prémio de Teatro da RTP, Damião de Góis; Associação de Críticos; Casa da Imprensa; Prémio da Associação de Actores e Directores da Catalunha. No 1.º Festival Internacional da Ciudad de México foi distinguido com o primeiro lugar com a peça "Dancing" .
 
Em 2004, foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito Municipal.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

NÃO BASTA ABRIR A JANELA


Porque a máquina da felicidade não existe, é uma criação singular, é preciso estar atento às modas, conceitos que nos impingem, ter espírito crítico. O que é bom para os outros pode não ser bom para nós! Sermos nós próprios é o verdadeiro desafio, por isso, embora possa ser um começo .... 


NÃO BASTA ABRIR A JANELA

Não basta abrir a janela 
Para ver os campos e o rio. 
Não é bastante não ser cego 
Para ver as árvores e as flores. 
É preciso também não ter filosofia nenhuma. 
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas. 
Há só cada um de nós, como uma cave. 
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; 
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, 
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela. 

Falas de civilização, e de não dever ser, 
Ou de não dever ser assim. 
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos, 
Com as cousas humanas postas desta maneira. 
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos. 
Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor. 
Escuto sem te ouvir. 
Para que te quereria eu ouvir? 
Ouvindo-te nada ficaria sabendo. 
Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo. 
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres. 
Ai de ti e de todos que levam a vida 
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!

Entre o que vejo de um campo e o que vejo de outro campo
Passa um momento uma figura de homem.
Os seus passos vão com «ele» na mesma realidade,
Mas eu reparo para ele e para eles, e são duas cousas:
O «homem» vai andando com as suas ideias, falso e estrangeiro,
E os passos vão com o sistema antigo que faz pernas andar, Olho-o de longe sem opinião nenhuma. Que perfeito que é nele o que ele é – o seu corpo,
A sua verdadeira realidade que não tem desejos nem esperanças,
Mas músculos e a maneira certa e impessoal de os usar.

Alberto Caeiro